quarta-feira, 20 de maio de 2009

O que guardar cá dentro

É como um navio...
Alto mar, tempestades, bonanças
Querendo e desquerendo, partindo
As ondas inquebráveis dos momentos do
Passado.
Como se agulhas furassem
Os poros ja abertos pelos regaços da água
De meus olhos, fugidios da verdade.
E o que guarda? Cá dentro? Onde?
Para quê?
Ter-te em meus braços é um ilusão diária
Que aprisiono sem questionar
Até a dor aguda se lançar
Borda fora deste pedaço de carne
Sem mastro.
Navegar até ao fim do espaço
Que criamos, entre nós.
Navegar para lembrar.
Navegar par descobrir e incobrir
E não olhar a luz do dia,
A luz ofoscante do sentimento,
Do desentir o desentimento...
É deixar os cabos da proa
Dormir, esvoaçando contra o casco
Rude das ondas do mar e do tempo e do espaço.
Tudo o que em nós guardamos
Tem uma natura, um porquê,
Uma voz ou um silêncio
Que pomos borda fora ou
Fechamos, fechamos a todo o custo
Não vá... dizer!
Tudo o que temos cá dentro nos chama
Para fora, para sermos o lado certo
Da forma errada, da sombra brilhante
Da fonte que seca e expele a tua própria pele
Renancendo o odor, o gosto pela esperança
Que um dia regresseremos, vivos e sem guardar-mos
Cá dentro
A formosura de sermos nada e
De tudo podermos ser.


Tudo o que guardamos faz monte, moça, dói, alegra, nos constrói. Tudo o que não dizemos faz-nos outras pessoas dentro do nosso próprio mundo como quarto fechado sem ameias para vislumbrar, ter noção do nosso espaço... espaço que nunca, munca é nosso. É dor de partilhar. É alegria de ser de mais alguém.
Não me levem a mal, isto para mim faz sentido.
Eu nunca sou só eu. Sou eu e os amigos, e a família, e os colegas, e os patrões, e os vizinhos e sempre sou eu e alguém mais que se cruza comigo, a qualquer tempo. Somos sempre fruto de tudo o que vivemos e com o fazemos. E, sempre, guardamos cá dentro o que não devemos dizer, e repetimos vezes sem conta o que deveríamos dizer, ter dito ou feito ou não e guardamos sempre esse espaço no que nos resta para termos a paz. Mas não sabemos... não sei ser de outra forma.
Eu escrevo mesmo a dormir e não há caneta nem mão que me valha. O meu pensamento escorre-me feito areia por entre os dedos e a cada palavra uma emoção associo, a cada frase uma cena, um acto de uma peça onde nunca serei senão actriz principal... ai! Responsabilidade! Imagino o palco, o lençol posto à minha frente, as sombras feitas de mim e o que lhes diria e não digo. As palavras que nunca lhes direi, ou nunca lhes farei sentir pois eles e elas são parte de mim e a dor, apesar de sempre minha, não a quero comigo.
Por isso, guardo e encho-me de ar e de dor e de dor transformada em substância. Comida! Não bebo para esquecer. Como para me lembrar que a dor de dizer o que sinto é pior que a dor de me ver como fui.

Bjs,
Karol

2 comentários:

  1. Tudo se guarda, mesmo quando nao queremos nao é?
    Qual de voces escreveu esta entrada? É linda.

    Cumps. AP

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